terça-feira, 14 de junho de 2016

Corrida #2

Sem se aperceber de nada, continuou a correr e a dizer para si própria "faltam só 2 km e depois o banho quente e o descanso merecidos". Naquele dia ia conseguir fazer 15 km, apesar do frio, do vento e de começarem a cair umas pingas de chuva. Era assim, mostrava a sua resistência quando as condições eram desfavoráveis e enchia-se de dificuldades quando os obstáculos eram mornos. Era assim na corrida e na vida.

Sentiu-se estranha, sentiu que algo não estava bem, olhou para trás com dificuldade, como sempre é fazer uma rotação quando se está a correr em esforço e viu o carro preto, muito perto de si, com os faróis desligados e a seguir muito devagar. Instintivamente, aproximou-se da berma da estrada de terra e tentou perceber se havia mais alguém por ali. Ao mesmo tempo, levou a mão ao spray de gás pimenta que trazia no bolso do casaco. Por correr sempre sozinha, sentia-se desprotegida e quando uns amigos foram de férias a Andorra, tinha-lhes pedido que lho trouxessem, principalmente para a proteger dos cães, que, como se sabe, não suportam pessoas a correr. Estranho, o que mais a assustava não eram psicopatas, mas sim cães a quererem rasgar-lhe a pele. Até ao momento nunca o tinha utilizado, já os tinha encontrado mas parava sempre e eles perdiam o interesse, portanto, não sabia sequer se o spray funcionaria, mas parecia-lhe que estava prestes a descobrir. 

Continuou a correr, numa tentativa de se convencer que estava tudo bem, que não havia razão para ter medo, só que o coração batia cada vez mais depressa. Pelo canto do olho percebia que o carro não parava nem a ultrapassava. "O que fazer? Corro mais rápido? Paro e corro na direção oposta?". Ainda tinha mais 1 km até chegar à rua principal, estava por sua conta a não ser que alguém aparecesse, mas olhando para a estrada não via ninguém. Voltou a colocar o spray no bolso, pegou, do outro bolso, o telemóvel, que media os quilómetros percorridos e a velocidade média da corrida e considerou ligar para o 112, mas sentiu que estava a exagerar, provavelmente não havia razão para tanto. Tentou o Pedro, pelo menos dir-lhe-ia o que estava a acontecer e ele ficaria a saber onde estava. Tarefa, aparentemente, simples se não estivessem abertas várias aplicações e se não estivesse a correr. Ainda conseguiu marcar o número mas já não disse nada, o telemóvel foi-lhe arrancado das mãos.

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