sexta-feira, 5 de agosto de 2016

Ser poesia

Tenho apenas prosa dentro de mim e preciso tanto de poesia. Os pensamentos encadeiam-se em movimentos presos, bem alinhados, mas sem o redondo da poesia e preciso tanto de a sentir, de a viver, de a colocar nos meus olhos, como uma rede imediatamente antes de ver e sentir o mundo. Como se ganha poesia no sangue? Como se tiram as linhas geométricas da prosa do ar e se respira o doce da poesia?

Poesia é magia, é tudo poder acontecer, sem princípio nem fim, sem céu nem terra, sem limites, sem gravidade, sem conceitos, sem idade, sem peso, sem experiência, sem mágoa. Poesia é estar e sentir tudo, até o que não se sente, nem nunca se sentiu. Quero, não, preciso de poesia como do amor, poesia é amor e transforma-o, para que o amor seja leve e simples, seja quem é, se comande a si próprio, sem precisar de mim para viver livremente, sem amarras, para crescer. 

Quero mergulhar na poesia e absorver o mais que for capaz, sem medo de voltar a ser inocente, com vontade de ser muito mais do que sou, sentir-me cheia de cor e de brilho, sentir-me em dimensões que ainda não alcanço, a perceber o mundo com o mais real e bonito de mim, com a emoção, sem razão, razão, aqui não entras, estou farta de ti, és muito chata e não me largas, podes voltar depois, mas agora não... NÃO!!

Tanto que fugi de sentir medo, de sentir o mau, que deixei de sentir o bom, afastei-me da paz e intensidade que o sonho carrega, de meditar alegremente, de me deixar envolver nos afetos, de ouvir a poesia e o sonho, mesmo que não seja real, mesmo que nunca vá acontecer. Quero voltar a sonhar, a sentir a poesia a elevar-me muito acima do que sou, muito mais do que é só viver, muito mais do que é só contentar-me. Preciso de sentir a poesia no que sou para que não tenha que me esforçar em apreciar o bom que tenho, mas sim sentir a magia a abraçar tudo o que vivo. A voz interior precisa de ser livre, sem rédeas nem regras, para respirar profundamente e ser maior, sem medo de ser criança, sem medo de aspirar mais, sem medo de cair, sem medo de ser tonta, sem medo de ser diferente, sem medo de me aceitar, sem medo de me perder, sem medo de me amar.

Não sei como deixar a poesia ser parte de mim... mesmo que venha a medo, não faz mal, preciso que levante um pouco do manto pesado e invisível que carrego, a força escondida e presa vai despertar, preciso só de acreditar que sou poesia.

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